A chegada do novo ano trazia consigo um sentimento de esperança muito grande, mas a verdade é que estamos ainda muito longe do regresso ao normal. A renovada onda de confinamento e restrições por toda europa obrigou a um regresso, em força, ao teletrabalho, videochamadas com os amigos, reuniões no zoom, entre outras tecnologias para continuarmos a trabalhar e nos mantermos ligados à família e amigos.
Este confinamento que agora vivemos, embora parecido com o que vivemos há um ano, acaba por ser diferente, por várias razões. Desde logo, pelo risco de infecção ser, agora, muito maior, tanto para nós como para familiares e amigos e a ansiedade e stress provocados pela pandemia e pelo confinamento serem diferentes. Para muitas famílias, o número de factores, que aumentam esse mesmo stress, é maior, sobretudo para aquelas que, experienciarem a doença, sejam confrontadas com situações de desemprego, vivam com dificuldades financeiras ou que tenham de conciliar o teletrabalho com o cuidado de filhos menores ou de outros familiares.
O cansaço que sentimos pela fadiga da pandemia, é normal e atinge grande parte dos portugueses, assim como os impactos psicológicos do primeiro confinamento e da situação de crise, pandémica e socioeconómica, que enfrentamos. No primeiro confinamento, o nosso esforço e sacrifício eram alimentados pela esperança de resultados positivos e pelo sentimento de “missão” que nos unia a todos. Neste segundo confinamento, ainda que esperemos, igualmente, resultados positivos, é natural sentirmos também uma maior desconfiança e menor motivação perante um futuro que parece incerto, sobretudo pelos resultados do primeiro confinamento, que nos parecem um falhanço e acabaram por nos obrigar a voltar para casa, e pelas restrições impostas para combater a pandemia não nos permitirem regressar a uma vida normal.
Embora esta seja já a segunda vez que passamos por esta “clausura” forçada, há sentimentos, como a angústia, a zanga ou a impotência, que embora pouco usais em tempos normais, acabam por ser naturais em tempo de pandemia e confinamento. Também é natural ter algumas dúvidas, relativamente à forma como vamos conseguir ultrapassar esta fase ou alguma frustração por não conseguirmos concretizar alguns planos e projectos que ficam pendentes. É por isso essencial arranjar forma de, nos vários planos, emocional, relacional e pessoal, contrariar estes sentimentos.
Tendo em consideração que há pouco que cada um de nós possa fazer para influenciar a rapidez com que esta pandemia chegará ao fim, é importante aprender a viver com ela. Devemos por isso estar atentos às nossas emoções, pensamentos e sentimentos, e lembrar-mo-nos que é natural alguma flutuação no nosso humor e motivação, bem como aceitar essas mesmas flutuações. Sendo esta a segunda vez que passamos pelo confinamento, melhor ou pior, sabemos que conseguimos lidar com a situação e temos já estratégias para ela. Como por exemplo, o viver um dia de cada vez, estar concentrado no agora, não ter grandes preocupações com o que não podemos controlar e usar o humor para ultrapassar momentos menos bons.
A par do plano emocional, de que já falámos, será importante também termos alguma atenção às relações. O confinamento significa apenas isolamento físico e não devemos permitir que se transforme também em isolamento emocional. As relações com os outros são o mais importante da nossa vida, essa é uma realidade que não se alterou e devemos, nesta fase, inclusivamente, mesmo à distância, reforçar essas relações, expressar os nossos afectos e partilhar o que sentimos e como estamos.